Como o discurso oficial define o fracasso escolar e quais as raízes ideológicas do pensamento educacional brasileiro onde estão ancoradas as concepções sobre o mesmo?
De acordo com os artigos “O fracasso escolar como objeto de estudo:
anotações sobre as características de um discurso” de Maria Helena Patto (1988)
e “Escola cheias, cadeias vazias” as raízes ideológicas do pensamento
educacional brasileiro, vários fatores são tidos como causas do discurso
oficial que define o fracasso escolar. Segundo tal autora essa realidade se
atrela aos ideais escolavinistas de primeira ou segunda geração, nos quais o
predomínio do ponto de vista filosófico-político, cujos pressupostos
liberalistas subsidiaram o movimento da Escola Nova.
A autora contextualiza a natureza do discurso ao movimento da
Escola Nova, o qual refletiu os ideiais democráticos, principalmente a partir
das ideais de Anísio Teixeira e Lourenço Filho, que questionaram e apresentaram
propostas inovadoras acerca dos métodos de ensino, reconhecendo a
especificidade psicológica da criança. Os caminhos da Escola Nova
preocupavam-se com os indivíduos no processo de aprendizagem e ressaltavam a
relevância dos processos individuais ao desenvolvimento máximo das
potencialidades humanas dos educandos. È salientado que a formação dos
professores e dos cursos de magistério e sua competência técnica também
deixavam a desejar, sendo alvos de diversas criticas. Ao
fazer o estudo aprofundado do histórico Patto (1988) ressalta que essa vertente
da discriminatória da educação popular evidenciou dois tipos de preconceito, o
racial e o social.Ela afirma “A crença de que os integrantes das classes
populares são lesados do ponto de vista das habilidades perceptivas, motoras,
cognitivas e intelectuais está disseminada no pensamento brasileiro”. (PATTO,1988,
p.75);
Uma nova tendência se evidenciou nos estudos do fracasso escolar a
partir da segunda metade da década de setenta, sendo criticada a ruptura e
posteriormente a repetição. As pesquisas passaram a enfocar também as condições
materiais, administrativas e pedagógicas das escolas publicas, logo a ótica da
falta de adequação das instituições de do despreparo dos educadores se fez mais
presente nos discursos.
Ao apontar as principais causas do fracasso escolar Patto (1988) deixa
claro que estas advêm de um conjunto de fatores, sobretudo do fato de que os
sistemas de ensino que não conseguem atender às diversidades de necessidades
presentes nas escolas, deixando de identificar onde se encontram os obstáculos à
aprendizagem, das formas de avaliação a cada ano acerca da prontidão ou não dos
alunos, da condução do processo que leva o aluno a descobrir sua própria
modalidade de aprendizagem (ponto crucial seu modo particular de se relacionar
com a aprendizagem escolar).
Enfim, o fracasso escolar se atrela aos contextos nos quais o
indivíduo está inserido, seja ele familiar, cultural, social ou político,
dentre outros. Também é nítida a relação entre o fracasso escolar e falta de
preparo de muitos professores, os quais não têm treinamentos em quantidade e
qualidade suficiente, assim os cursos de formação se centram mais na leitura,
bibliografia de concursos e ideias de vanguarda na literatura educacional, ou,
são muito restritos perante a amplitude da questão. Embasada nas teorias
discutidas por Patto (1988) a pesquisa com fundamentação teórica marxista
obedece a uma investigação segmentada em variáveis com relação de causa e
efeito na verificação de evasão e repetência. Para a autora as principais causas
do fracasso escolar se vinculam à má qualidade do corpo docente, a
desqualificada política nacional e ao despreparo de educadores quanto a
observação da realidade do aluno, bem como do desinteresse da comunidade acerca
dos assuntos escolares.
Qual a relação que você consegue estabelecer entre o fracasso escolar
e os alunos envolvidos com a inclusão no ensino público?
Partindo das reflexões expostas nos artigos que embasaram essa tarefa
considero que a relação entre fracasso escolar e os alunos envolvidos com a
inclusão no ensino público, se faz de maneira inadequada ao êxito desses
alunos, pois são eles as principais vitimas da falta de qualidade das
instituições educativas. Obviamente a má formação da enorme maioria dos
educadores e falta de verba (e também a má aplicação dessas verbas) notória nas
políticas públicas geram ainda mais obstáculos ao avanço da qualidade
educacional na perspectiva da inclusão. È de grande relevância estimular cada
vez mais a consciência acerca da precariedade da escola oferecida às
crianças das classes populares, a qual, em diversos casos, não garante mais nem mesmo alguma capacidade
de ler e escrever .
Tal como salienta Patto (2007) a escola pública se volta mais
às crianças de classe média, o que leva o professor a idealizar os alunos, os
quais na realidade cotidiana se diferem muito desses padrões. Faz-se necessário
refletir constantemente as questões teórico-metodológicos de referência, para a
libertação dos preconceitos e a busca do acesso real aos direitos a educação
qualitativa que toda criança possui. Segundo a autora é fundamental
desmistificar a gênese do fracasso escolar e admitir que esta se atrele à
relação de intensa dominação hierárquica das classes sociais, que a mais de cem
anos questionada ainda persiste.
... cem anos depois, a
continuidade desses mitos sobre o povo e sobre a função social da escola é
prova impressionante da força do preconceito, que resiste ao conhecimento
alcançado a respeito da complexidade dos determinantes do crime e da própria
criminalização das condutas de pobres e negros como prática de natureza
política. Na atual conjuntura de desemprego e de permanência da barbárie que
sempre marcou a relação de classes no país, está aberta a porta à destituição
da escola como instituição de ensino e à transformação dela em lugar de
detenção maquiada dos filhos dos pobres e de violência sem precedentes. (PATTO,
2007, p.11)
Lembrando as ideologias
historicamente atreladas à economia e política, nas quais a educação escolar foi
colocada como instituição redentora de todos os problemas da sociedade, a
autora afirma que, através desses discursos são depositadas esperanças de
desenvolvimento econômico e de harmonia social “... com ênfase que pode mudar
em diferentes períodos indicadores quantitativos e/ou qualitativos da presença
social da escola desmentem invariavelmente as declarações de intenção de
políticos e tecnocratas de todos os tempos (PATTO, 2007, p.16).
Logo, as ideias
condescendentes são passivas e consequentemente, ao longo da historia da
educação nacional, se mostram ineficazes, e, se estiverem destituídos de
preconceitos, atua com juízos provisórios. Portanto, faz-se elementar trabalhar
cada necessidade individual dos alunos, sem discriminação de raça, deficiência,
cultura e, sobretudo classe socioeconômica. Nesse sentido um dos principais
fatores é que os profissionais da educação, todos, estejam preparados a lidarem
com essa situação, para que a inclusão realmente se processe no seio das
instituições educativas.
REFERÊNCIAS
PATTO, Maria Helena Souza. Escola cheias, cadeias
vazias: nota sobre as raízes ideológicas do pensamento educacional brasileiro. Estudos avançados 21, 2007, p. 1-24.
Disponível no link: http://www.moodle.ufop.br/mod/resource/view.php?id=461434
. Acesso: 16-08- 2014.
PATTO, Maria Helena
Souza. O fracasso escolar como objeto de
estudo: anotações sobre as características de um discurso. Cad. Pesq. (65)
maio de 1988. Disponível em: http://www.moodle.ufop.br/mod/resource/view.php?id=452627.
Acesso: 15-08- 2014.
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